Que Moda está ‘na moda’ todos já sabem, basta ver o turbilhão de filmes e livros a respeito do tema, só o que não se podia prever é que essa paixão geraria um engano. Toda essa movimentação cria um certo conforto, uma sensação de afinidade das pessoas em relação ao tema: o senso comum (inteligência mediana e relativamente leiga no assunto tratado) trata de Moda como se conhecesse todo o seu funcionamento, inclusive os fatores sócio-culturais. Será?
Todos entendem de Moda e há quem diga (tive o desprazer de ouvir isso!) que Moda é assunto de domínio público (leia-se: entendimento geral). Como assim?? Domínio público conota a idéia de conhecimento geral, que todos conhecem e, aqui vem o susto, dominam. O sobressalto desse pensamento, e suas extensões na seara prática, no quotidiano, causam um frio na espinha; se todos conhecem e dominam o assunto Moda, ele torna-se parte do senso comum. As conseqüências são grandes e, ao contrário do que se possa pensar, não são um exagero ou ‘dramatização’.
No ponto de vista prático e execucional das engrenagens da Moda, esse pensamento abre margem a discussões sobre a necessidade de muitas funções na indústria e a mais atingida é (pasmem!!) a do designer. Qual a utilidade de alguém que crie, ou simplesmente compile informações adquiridas de plasticidades já existentes? Se moda é assunto de domínio público e que, por esse motivo, todos dominam, qualquer indivíduo pode ‘criar’, sem qualquer análise prévia, conhecimento de técnica ou mesmo (e mais importante) olhar treinado e bom gosto.
Estendamos, então, a premissa para a seara intelectual e acadêmica: Moda é assunto de domínio público. Todo o sistema historicamente construído, hoje com aproximadamente 700 anos, é de conhecimento geral. Sendo assim torna-se obsoleto o modelo atual dos ciclos de adoção da Moda (adoção pelos formadores de opinião – crescimento/aceitação publica – maturação/moda consumada ).
Entra em vigor um novo ciclo, instituído pela premissa em questão, onde só existe um último estágio de consumo: moda consumada. Essa fase é onde realmente a Moda, materializada em peças e exposta em tendências, é assumida/aceita/entendida pela grande massa.É nessa fase, no sistema vigente/correto, onde a Moda morre e, simultaneamente, nasce sob outros prismas plásticos (novas tendências!) no berço dos formadores de opinião. Um ciclo de adoção que vem desbancar todo um sistema construído culturalmente durante anos de história.
É o engano da aparência: como tratar o sistema Moda como integrante de um senso comum quando ela só atinge esse patamar próximo da sua morte? A velocidade da ciclicidade da Moda é violenta e, por vezes, nem todas as plasticidade lançadas chegam a atingir a fase de maturação, de moda consumada e senso comum.
Assustador?? Talvez nem tanto...a premissa de que a nossa amada Moda é assunto de domínio público abre uma lacuna, no mínimo, interessante:a simples menção dessa idéia conota toda a ignorância que existe em relação ao assunto; e se não conhecêssemos as discussões desse sistema, e suas características, poderíamos dizer que criou-se um novo paradoxo (conhecimento x ignorância).
Os holofotes dos desfiles não revelam toda a complexidade desse sistema á mesma medida que as cifras que giram as indústrias não encobrem a imaturidade técnica. Ainda temos muito que aprender e muito mais a mostrar sobre Moda para o domínio público a fim de que, um dia, o assunto realmente caia no senso comum.
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